Nosso blog que tem como tema “Patriarcado x Matriarcado” consiste na apresentação de ideias a cerca do assunto e na discussão sobre temas que estão ligados aos dois universos de chefia familliar, o feminino e o masculino.
Mostramos no início do blog o significado do patriarcalismo, imposto por uma sociedade machista, onde o homem tem autoridade máxima sobre a esposa e os filhos, atingindo todos os âmbitos da sociedade: política, economia e cultura. A superioridade do homem, portanto, além de ser em relação a sua família, reflete também nas vida das demais mulheres.
Após a definição do lado patriarcal, passamos a desenvolver textos sobre a mulher e sua crescente valorização, tanto na sociedade quanto no âmbito profissional. Discutimos como ela tem influenciado nas decisões da família, como vem ganhando espaço através da inserção no mercado de trabalho, mas que apesar de toda essa evolução feminina, o patriarcalismo ainda se sobressai. Não é possível extingir algo que vem há séculos marcando os traços da sociedade. Até mesmo as mulheres, ou nós mesmas, ás vezes acabamos pensando de uma forma conservadora, pois querendo ou não, o ambiente em que vivemos acaba por nos influenciar, ou seja, incorporamos o patricalismo em algumas situações. Mas nem por isso, as mulheres precisam aceitar tudo o que é tradicionalmente imposto e aquelas que se conscientizaram da dominação, lutam por um maior espaço na sociedade.
O blog intitulado "Ainda somos patriarcais?" foi criado para que pudéssemos expressar nossa opinião sobre uma sociedade que mesmo tentando combater cada vez mais uma superioridade de gênero masculino, ainda insiste em ser como é. Através do posts, queríamos instigar o público-leitor a discutir os temas abordados para que surgisse uma discussão coletiva de diversos posicionamentos. Dessa forma, uma opinião pública poderia ser formada e analisada.
Consumidoras são 55% entre inadimplentes, mas dívidas dos homens têm valor mais elevado, mostra estudo. Mulheres pagam contas menores, e homens pagam dívidas maiores; mais endividados estão entre 30 e 39 anos.
CAROLINA MATOS DO RIO
Quando o assunto é inadimplência, as mulheres devem mais, principalmente no comércio. Mas suas prestações ficam abaixo de R$ 500. Acima desse valor, a maioria dos devedores é homem. É o que mostra estudo do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), que, pela primeira vez, cruzou dados sobre valor das dívidas, e os segmentos em que foram feitas, com idade e sexo dos consumidores. As mulheres são maioria entre os que estão com o "nome sujo" no cadastro do SPC: 55% do total. E representam mais de 60% dos inadimplentes do comércio. Mas, também de acordo com o levantamento, o descontrole delas para quitar os débitos diminui à medida que os valores aumentam. Na faixa de prestações acima de R$ 500, os que mais deixam de pagar são homens: 54%. Foram considerados três setores principais, que, somados, representam 60% dos registros de inadimplência do SPC. São eles: serviços financeiros (que incluem financiamentos, empréstimos e até o crédito rotativo do cartão de crédito), serviços (como educação, telefonia e TV a cabo) e, por fim, comércio.O estudo não detalhou como se distribuem as dívidas dentro de cada segmento.
IDADE As mulheres são a maioria dos devedores de todas as faixas etárias. No total, a parcela com idade entre 30 e 39 anos (de ambos os sexos) é a maior (28,5%). Nesse grupo, as consumidoras são 56%.Especialistas apontam tanto aspectos econômicos como culturais como bases para esse cenário. "Entre os 30 e 39 anos, por exemplo, as pessoas já passaram do início da carreira e têm condições de consumir mais", diz Fernanda Della Rosa, economista da Fecomercio SP. "E a presença feminina entre os devedores pode estar relacionada à maior participação das mulheres no mercado de trabalho e como chefes de família, decidindo as compras de alimentos, roupas e eletrodomésticos." Quanto à maior parcela de homens nas dívidas em atraso acima de R$ 500, Silvio Laban, professor do Insper, destaca salário e disposição ao risco."Como as mulheres, muitas vezes, ganham menos que os homens, as dívidas maiores, como o financiamento da casa, acabam ficando em nome deles, embora as mulheres entrem para compor a renda familiar." "Além disso, os homens se mostram mais encorajados a assumir dívidas mais altas, como para comprar um carro ou uma moto, e, muitas vezes, perdem o controle." Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira, diz que os números reforçam a percepção de que as mulheres se perdem mais em gastos menores, enquanto os homens, nos mais elevados. Mas D'Aquino destaca que a falta de maturidade na relação com o dinheiro pode afetar tanto homens como mulheres e até desestruturar uma família. "Muitas vezes, as pessoas, embora muito endividadas, acreditam que o dinheiro vai aparecer, seja pela ajuda de amigos e familiares ou até por intervenção divina, e não tomam a decisão de mudar de atitude. A principal causa dos problemas mais sérios com endividamento é a falta de uma reserva de emergência, que represente de três a seis meses da renda familiar", diz D'Aquino.
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Ok, não podemos ser tão radicais a ponto de criticar a Folha de S. Paulo pela publicação de uma matéria que destaca as mulheres no que diz respeito à falta de disciplina na contenção de gastos; afinal, meios de comunicação servem para informar e, se a Pesquisa relatada foi feita, os leitores têm o direito de ter acesso à ela.Entretanto, acho válida a reflexão quanto à construção da realidade pelos meios de comunicação de massa.
Afirmarmos ao longo dos nossos posts que acreditamos e notamos que a sociedade contemporânea apresenta traços evidentes de um patriarcalismo ainda vigente. Sendo assim, o que faz dessa sociedade ainda tão machista? A publicação de matérias como essa não torna mais viva a discussão sobre a suposta diferença entre sexos?
Sobre o conteúdo da matéria, o que mais me chamou a atenção foi o destaque da participação de mulheres em gastos menores (para a casa e no comércio) e de homens em gastos maiores (como investimentos e compras grandes), o que reforça a ideia de superioridade financeira masculina e da figura da mulher como dono de casa.
Quanto ao comentário do Professor Silvio Laban: baseado no que é possível afirmar que os homens assumem dívidas mais altas por serem mais corajosos? Será que é mesmo questão de coragem? Ou isso se deve única e exclusivamente ao fato de as mulheres ainda estarem inseridas numa sociedade patriarcal que não lhes proporciona as mesmas oportunidades salariais das quais são providos os homens? Creio que esse pequeno detalhe lhes fariam grandes empreendedoras devido à maior segurança proporcionada pela conta bancária.
Quanto ao fato de a mulher ainda ser colocada como dona de casa, me questiono: seria esse um pensamento ultrapassado, antigo, ou apenas um relato do que realmente ainda acontece no contexto de uma sociedade machista?
Em meados do século XX surgiu a primeira teoria sobre o movimento feminista, que se estendeu por três fases e permanece ativa até os dias de hoje. Baseado na luta pelos direitos iguais entre o sexo feminino e masculino, o feminismo protesta por um modo de vida livre de padrões opressores derivados do estilo patriarcal da sociedade. Até hoje envolve diversos tipos de teorias e movimentos igualitários decorrentes do próprio feminismo, que o transformaram na ideologia de vida de muitas mulheres.
Uma consequência do movimento foi a criação de uma diversidade de vertentes que variaram ao longo da história e do contexto social: há no feminismo o compromisso de por fim na dominação masculina e estrutura patriarcal. As diferenças presentes nos variados movimentos feministas estão na identidade; no foco de luta e nas metas que quer alcançar; na possibilidade de combater e reformar o estado patriarcal , a heterossexualidade patriarcal e ainda a dominação cultural.
Muitas mulheres simpatizantes ao movimento feminista acreditam que a discriminação ainda existe tanto em países subdesenvolvidos quanto em países desenvolvidos, apesar de o movimento ter iniciado nos Estados Unidos e se dissolvido nos outros continentes, incluindo África e América Latina. Porém, as mulheres das antigas colônias européias e do Terceiro Mundo, criticavam o feminismo ocidental como sendo ‘etnocêntrico’.
Apesar disso, o objetivo de todas as feministas ao redor do mundo é trazer ao sexo feminino igualdade relacionada principalmente ao racismo, homofobia, política e direitos trabalhistas.
Os avanços conquistados no mundo ocidental trouxeram grande diferença no modo de vida de muitas mulheres, porém estatísticas mostram que ainda faltam algumas atitudes para tornar a sociedade uma movida por teorias patriarcais, mais aderente ao igualitarismo.
E você , o que acha destes dados? O que deve ser feito para trazer ao sexo feminino total igualdade e força perante ao patriarcalismo da sociedade?
Resolvi postar esse curto documentário experimental hoje, pois há dois momentos das entrevistas que me interessam para o assunto que será abordado: o desenvolvimento da sexualidade feminina.
Para Castells, a sexualidade da mulher está diante de um processo de reconstrução caracterizada “pela desvinculação do casamento, da família, da heterossexualidade e da expressão sexual (o desejo)” (2008, p.270). Prossegue dizendo que quanto mais distante o indivíduo se põe das instituições patriarcalistas, mais facilmente assume o seu corpo como um princípio de identidade e através da multiplicidade de expressões sexuais, capacita-se para a reconstrução de sua personalidade.
Acredito que sim, passamos pela revolução sexual de 60,70, mais atualmente por esta que Castells define, e, com isso, a mulher atribuiu novos significados e valores ao sexo, um novo comportamento e posicionamento. Reconhece-se a luta, a evolução da mulher na questão sexual, porém, ao mesmo tempo que ela vem mudando, não podemos vê-la como concluída, como certa, sobretudo, igualitária. Como já citado em postagens anteriores, o patriarcalismo não se dá apenas na relação homem x mulher, mas sim num todo conjunto social que o sustenta e reproduz. Portanto, ao mesmo tempo em que a mulher se afasta dessas instituições repressoras e ganha certa autonomia sexual, há toda uma conjuntura social que a mantém conservada, sem opção de fuga, num estado de esterilidade do prazer.
Nesse mesmo capítulo em que Castells trata do seu estudo sobre o patriarcalismo, traz a tona um dado interessantíssimo quanto a orgasmos, ocorre em 75% dos encontros sexuais para os homens e em 29% para as mulheres (pesquisa quantitativa realizada nos EUA na déc.90). Por quê? Não tenho um embasamento teórico, muito menos científico quanto à incapacidade da mulher em atingir um orgasmo, porém creio que isso não tenha nenhuma razão biológica, todas somos capazes biologicamente, a não ocorrência desse e a não exploração, a não procura do alcance, nada mais é que um fator social, enraizado em estruturas patriarcais. Porém, quais estruturas são capazes de influenciar diretamente nessa questão tão íntima, tão privada (?), ou seja, estas se constituem e saem da esfera pública, do pensamento público, e interferem na construção da individualidade.
Basta agora pensar o que sustenta isso, quais instituições e costumes mantém a sexualidade da mulher inferiorizada.
Como primeira instituição, posso citar o Direito. No Brasil, o estupro realizado pelo marido é fenômeno inexistente, portanto não tratado na legislação, o que faz desenvolver um raciocínio legal de que a mulher deve servir sexualmente ao cônjuge, independente de sua vontade e consentimento. Além disso, o Estado brasileiro trata diferentemente os direitos do homem e da mulher presa, um exemplo claro e incontestável é o da visita íntima. Em penitenciárias femininas, não existe o sistema de visitas íntimas, portanto a sexualidade da mulher tem menos importância legal que a dos homens.
Partimos agora para a Igreja, como já citado pela minha querida amiga Laura no documentário, existe toda uma linguagem usada, legitimada como a palavra de Cristo, que consagra ao corpo da mulher, um corpo, abençoado pelo dom de gerar. No I Corintos, podem-se analisar infinitas formas de rebaixar a mulher diante do homem: o homem é a cabeça de Cristo, a mulher é o corpo; o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Além do pior pecado cometido, aquele que comprometeu toda a humanidade: a mulher mordeu a maça. Luxúria!
Em outro momento, minha amada avó, quando entrevistada, relatou a necessidade da reprodução no casamento. A conexão direta entre sexo e reprodução, sendo a mulher a geradora, a capaz de procriar, faz do sexo não uma expressão sexual, mas sim uma função. Isso, é claro, aconteceu a um tempo relativamente significativo, já mudou, como Castells afirma, o sexo ganhou novos significados simbólicos, ainda como reprodução, mas também como atividade libertária, recreativa e de companheirismo. Porém quantos são os costumes, expressões de linguagem (como o título dessa postagem), instituições, conotações midiáticas que ainda sustentam, conservam a mulher inferior ao homem, da interpretação mais coletiva a mais individual. Se isto não for resquício do patriarcalismo, então não sei o que é.