30 de maio de 2011

Relatório Final

Nosso blog que tem como tema “Patriarcado x Matriarcado” consiste na apresentação de ideias a cerca do assunto e na discussão sobre temas que estão ligados aos dois universos de chefia familliar, o feminino e o masculino.

Mostramos no início do blog o significado do patriarcalismo, imposto por uma sociedade machista, onde o homem tem autoridade máxima sobre a esposa e os filhos, atingindo todos os âmbitos da sociedade: política, economia e cultura. A superioridade do homem, portanto, além de ser em relação a sua família, reflete também nas vida das demais mulheres.

Após a definição do lado patriarcal, passamos a desenvolver textos sobre a mulher e sua crescente valorização, tanto na sociedade quanto no âmbito profissional. Discutimos como ela tem influenciado nas decisões da família, como vem ganhando espaço através da inserção no mercado de trabalho, mas que apesar de toda essa evolução feminina, o patriarcalismo ainda se sobressai. Não é possível extingir algo que vem há séculos marcando os traços da sociedade. Até mesmo as mulheres, ou nós mesmas, ás vezes acabamos pensando de uma forma conservadora, pois querendo ou não, o ambiente em que vivemos acaba por nos influenciar, ou seja, incorporamos o patricalismo em algumas situações. Mas nem por isso, as mulheres precisam aceitar tudo o que é tradicionalmente imposto e aquelas que se conscientizaram da dominação, lutam por um maior espaço na sociedade.

O blog intitulado "Ainda somos patriarcais?" foi criado para que pudéssemos expressar nossa opinião sobre uma sociedade que mesmo tentando combater cada vez mais uma superioridade de gênero masculino, ainda insiste em ser como é. Através do posts, queríamos instigar o público-leitor a discutir os temas abordados para que surgisse uma discussão coletiva de diversos posicionamentos. Dessa forma, uma opinião pública poderia ser formada e analisada.

19 de maio de 2011

Reportagem da Folha de S. Paulo - 16/05/2011

Mulheres são maioria entre endividados

Consumidoras são 55% entre inadimplentes, mas dívidas dos homens têm valor mais elevado, mostra estudo. Mulheres pagam contas menores, e homens pagam dívidas maiores; mais endividados estão entre 30 e 39 anos.

CAROLINA MATOS
DO RIO

Quando o assunto é inadimplência, as mulheres devem mais, principalmente no comércio. Mas suas prestações ficam abaixo de R$ 500. Acima desse valor, a maioria dos devedores é homem. É o que mostra estudo do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), que, pela primeira vez, cruzou dados sobre valor das dívidas, e os segmentos em que foram feitas, com idade e sexo dos consumidores.
As mulheres são maioria entre os que estão com o "nome sujo" no cadastro do SPC: 55% do total. E representam mais de 60% dos inadimplentes do comércio.
Mas, também de acordo com o levantamento, o descontrole delas para quitar os débitos diminui à medida que os valores aumentam.
Na faixa de prestações acima de R$ 500, os que mais deixam de pagar são homens: 54%. Foram considerados três setores principais, que, somados, representam 60% dos registros de inadimplência do SPC. São eles: serviços financeiros (que incluem financiamentos, empréstimos e até o crédito rotativo do cartão de crédito), serviços (como educação, telefonia e TV a cabo) e, por fim, comércio. O estudo não detalhou como se distribuem as dívidas dentro de cada segmento.

IDADE
As mulheres são a maioria dos devedores de todas as faixas etárias. No total, a parcela com idade entre 30 e 39 anos (de ambos os sexos) é a maior (28,5%). Nesse grupo, as consumidoras são 56%. Especialistas apontam tanto aspectos econômicos como culturais como bases para esse cenário.
"Entre os 30 e 39 anos, por exemplo, as pessoas já passaram do início da carreira e têm condições de consumir mais", diz Fernanda Della Rosa, economista da Fecomercio SP. "E a presença feminina entre os devedores pode estar relacionada à maior participação das mulheres no mercado de trabalho e como chefes de família, decidindo as compras de alimentos, roupas e eletrodomésticos."
Quanto à maior parcela de homens nas dívidas em atraso acima de R$ 500, Silvio Laban, professor do Insper, destaca salário e disposição ao risco. "Como as mulheres, muitas vezes, ganham menos que os homens, as dívidas maiores, como o financiamento da casa, acabam ficando em nome deles, embora as mulheres entrem para compor a renda familiar." "Além disso, os homens se mostram mais encorajados a assumir dívidas mais altas, como para comprar um carro ou uma moto, e, muitas vezes, perdem o controle."
Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira, diz que os números reforçam a percepção de que as mulheres se perdem mais em gastos menores, enquanto os homens, nos mais elevados.
Mas D'Aquino destaca que a falta de maturidade na relação com o dinheiro pode afetar tanto homens como mulheres e até desestruturar uma família.
"Muitas vezes, as pessoas, embora muito endividadas, acreditam que o dinheiro vai aparecer, seja pela ajuda de amigos e familiares ou até por intervenção divina, e não tomam a decisão de mudar de atitude. A principal causa dos problemas mais sérios com endividamento é a falta de uma reserva de emergência, que represente de três a seis meses da renda familiar", diz D'Aquino.

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Ok, não podemos ser tão radicais a ponto de criticar a Folha de S. Paulo pela publicação de uma matéria que destaca as mulheres no que diz respeito à falta de disciplina na contenção de gastos; afinal, meios de comunicação servem para informar e, se a Pesquisa relatada foi feita, os leitores têm o direito de ter acesso à ela. Entretanto, acho válida a reflexão quanto à construção da realidade pelos meios de comunicação de massa.

Afirmarmos ao longo dos nossos posts que acreditamos e notamos que a sociedade contemporânea apresenta traços evidentes de um patriarcalismo ainda vigente. Sendo assim, o que faz dessa sociedade ainda tão machista? A publicação de matérias como essa não torna mais viva a discussão sobre a suposta diferença entre sexos?


Sobre o conteúdo da matéria, o que mais me chamou a atenção foi o destaque da participação de mulheres em gastos menores (para a casa e no comércio) e de homens em gastos maiores (como investimentos e compras grandes), o que reforça a ideia de superioridade financeira masculina e da figura da mulher como dono de casa.

Quanto ao comentário do Professor Silvio Laban: baseado no que é possível afirmar que os homens assumem dívidas mais altas por serem mais corajosos? Será que é mesmo questão de coragem? Ou isso se deve única e exclusivamente ao fato de as mulheres ainda estarem inseridas numa sociedade patriarcal que não lhes proporciona as mesmas oportunidades salariais das quais são providos os homens? Creio que esse pequeno detalhe lhes fariam grandes empreendedoras devido à maior segurança proporcionada pela conta bancária.

Quanto ao fato de a mulher ainda ser colocada como dona de casa, me questiono: seria esse um pensamento ultrapassado, antigo, ou apenas um relato do que realmente ainda acontece no contexto de uma sociedade machista?

17 de maio de 2011

Feminilidade em luta

Em meados do século XX surgiu a primeira teoria sobre o movimento feminista, que se estendeu por três fases e permanece ativa até os dias de hoje. Baseado na luta pelos direitos iguais entre o sexo feminino e masculino, o feminismo protesta por um modo de vida livre de padrões opressores derivados do estilo patriarcal da sociedade. Até hoje envolve diversos tipos de teorias e movimentos igualitários decorrentes do próprio feminismo, que o transformaram na ideologia de vida de muitas mulheres.

Uma consequência do movimento foi a criação de uma diversidade de vertentes que variaram ao longo da história e do contexto social: há no feminismo o compromisso de por fim na dominação masculina e estrutura patriarcal. As diferenças presentes nos variados movimentos feministas estão na identidade; no foco de luta e nas metas que quer alcançar; na possibilidade de combater e reformar o estado patriarcal , a heterossexualidade patriarcal e ainda a dominação cultural.

Muitas mulheres simpatizantes ao movimento feminista acreditam que a discriminação ainda existe tanto em países subdesenvolvidos quanto em países desenvolvidos, apesar de o movimento ter iniciado nos Estados Unidos e se dissolvido nos outros continentes, incluindo África e América Latina. Porém, as mulheres das antigas colônias européias e do Terceiro Mundo, criticavam o feminismo ocidental como sendo ‘etnocêntrico’.

Apesar disso, o objetivo de todas as feministas ao redor do mundo é trazer ao sexo feminino igualdade relacionada principalmente ao racismo, homofobia, política e direitos trabalhistas.

Os avanços conquistados no mundo ocidental trouxeram grande diferença no modo de vida de muitas mulheres, porém estatísticas mostram que ainda faltam algumas atitudes para tornar a sociedade uma movida por teorias patriarcais, mais aderente ao igualitarismo.

E você , o que acha destes dados? O que deve ser feito para trazer ao sexo feminino total igualdade e força perante ao patriarcalismo da sociedade?

Dê a sua opinião!

4 de maio de 2011

Dama na sociedade, puta na cama



Resolvi postar esse curto documentário experimental hoje, pois há dois momentos das entrevistas que me interessam para o assunto que será abordado: o desenvolvimento da sexualidade feminina.

Para Castells, a sexualidade da mulher está diante de um processo de reconstrução caracterizada “pela desvinculação do casamento, da família, da heterossexualidade e da expressão sexual (o desejo)” (2008, p.270). Prossegue dizendo que quanto mais distante o indivíduo se põe das instituições patriarcalistas, mais facilmente assume o seu corpo como um princípio de identidade e através da multiplicidade de expressões sexuais, capacita-se para a reconstrução de sua personalidade.

Acredito que sim, passamos pela revolução sexual de 60,70, mais atualmente por esta que Castells define, e, com isso, a mulher atribuiu novos significados e valores ao sexo, um novo comportamento e posicionamento. Reconhece-se a luta, a evolução da mulher na questão sexual, porém, ao mesmo tempo que ela vem mudando, não podemos vê-la como concluída, como certa, sobretudo, igualitária. Como já citado em postagens anteriores, o patriarcalismo não se dá apenas na relação homem x mulher, mas sim num todo conjunto social que o sustenta e reproduz. Portanto, ao mesmo tempo em que a mulher se afasta dessas instituições repressoras e ganha certa autonomia sexual, há toda uma conjuntura social que a mantém conservada, sem opção de fuga, num estado de esterilidade do prazer.

Nesse mesmo capítulo em que Castells trata do seu estudo sobre o patriarcalismo, traz a tona um dado interessantíssimo quanto a orgasmos, ocorre em 75% dos encontros sexuais para os homens e em 29% para as mulheres (pesquisa quantitativa realizada nos EUA na déc.90). Por quê? Não tenho um embasamento teórico, muito menos científico quanto à incapacidade da mulher em atingir um orgasmo, porém creio que isso não tenha nenhuma razão biológica, todas somos capazes biologicamente, a não ocorrência desse e a não exploração, a não procura do alcance, nada mais é que um fator social, enraizado em estruturas patriarcais. Porém, quais estruturas são capazes de influenciar diretamente nessa questão tão íntima, tão privada (?), ou seja, estas se constituem e saem da esfera pública, do pensamento público, e interferem na construção da individualidade.

Basta agora pensar o que sustenta isso, quais instituições e costumes mantém a sexualidade da mulher inferiorizada.

Como primeira instituição, posso citar o Direito. No Brasil, o estupro realizado pelo marido é fenômeno inexistente, portanto não tratado na legislação, o que faz desenvolver um raciocínio legal de que a mulher deve servir sexualmente ao cônjuge, independente de sua vontade e consentimento. Além disso, o Estado brasileiro trata diferentemente os direitos do homem e da mulher presa, um exemplo claro e incontestável é o da visita íntima. Em penitenciárias femininas, não existe o sistema de visitas íntimas, portanto a sexualidade da mulher tem menos importância legal que a dos homens.

Partimos agora para a Igreja, como já citado pela minha querida amiga Laura no documentário, existe toda uma linguagem usada, legitimada como a palavra de Cristo, que consagra ao corpo da mulher, um corpo, abençoado pelo dom de gerar. No I Corintos, podem-se analisar infinitas formas de rebaixar a mulher diante do homem: o homem é a cabeça de Cristo, a mulher é o corpo; o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Além do pior pecado cometido, aquele que comprometeu toda a humanidade: a mulher mordeu a maça. Luxúria!

Em outro momento, minha amada avó, quando entrevistada, relatou a necessidade da reprodução no casamento. A conexão direta entre sexo e reprodução, sendo a mulher a geradora, a capaz de procriar, faz do sexo não uma expressão sexual, mas sim uma função. Isso, é claro, aconteceu a um tempo relativamente significativo, já mudou, como Castells afirma, o sexo ganhou novos significados simbólicos, ainda como reprodução, mas também como atividade libertária, recreativa e de companheirismo. Porém quantos são os costumes, expressões de linguagem (como o título dessa postagem), instituições, conotações midiáticas que ainda sustentam, conservam a mulher inferior ao homem, da interpretação mais coletiva a mais individual. Se isto não for resquício do patriarcalismo, então não sei o que é.

29 de abril de 2011

Matriarcalismo ou Patriarcalismo? Prefira o equilíbrio

Se você é da geração dos anos 60 e até mesmo 70, você muito provavelmente cresceu sob o patriarcalismo.

Mesmo com as mulheres já tendo algum destaque profissional nesse período, a grande maioria delas ainda trabalhava só em casa, cuidando do lar, ou tinha alguma atividade que permitia a divisão do seu tempo, ou seja, era exercida à medida que sobrava tempo após cumprir as “obrigações” do lar.

A mulher tinha que estar em casa quando o homem chegasse. O jantar deveria estar preparado, as crianças arrumadas, com os deveres da escola prontos. Isso sim era a obrigação da mulher.

Mas, a sociedade evolui e evoluiu muito mais rapidamente a partir dos anos 80. Lares sem marido passaram a ser mais comuns. Mulheres formadas em universidades, prontas para disputar o espaço profissional que lhes cabia, saíram a campo. Casar e cuidar do lar saiu do sonho de futuro das solteiras. As casadas também saíram a procura de uma profissão fora do lar, ou porque já não tinham mais o marido, ou porque queriam seu espaço, ou porque o marido já não ganhava o suficiente para as novas despesas, como escolas particulares, de inglês, natação, etc, para os filhos, e as solteiras foram disputar as vagas e, em grande parte, ganharam.

No início, as vagas ainda era poucas e “cobertas”. Mas, depois, vagas em todos os escalões e tipos de atividades foram abertas para as mulheres.

E com elas, o patriarcalismo foi saindo pela porta. Nada tão fácil assim, mas acabou acontecendo. As mudanças sociais não ocorrem assim: sai o patriarcalismo, entra o matriarcalismo. Não é assim que funciona. Ambos vão se alternando, dependendo das situações de poder econômico, social, cultural, de um ou outro lado.

Acredito que chegaremos em um consenso nessa questão: nem um, nem outro, mas uma convivência harmoniosa entre pai e mãe, mãe e pai. Chegaremos ao terreno das composições de ideias, somando-se as divergências, valorizando as diferença e tirando delas o equilíbrio tão faltante no matriarcalismo ou no patriarcalismo. Esses dois pressupõem domínio e onde há domínio não há razão.

Num terreno de equilíbrio voltaremos a ter famílias saudáveis com filhos saudáveis, compreendendo como eles se completam e não tendo que ora torcer pelo pai, ora optar pela mãe.

26 de abril de 2011

Chefes de família mulheres correspondem a 35% da população


Vídeo extraído do documentário "Eu Tarzan, Você Jane", de 2006, exibido pelo GNT em 04/2008.

O vídeo acima demonstra o pensamento das mulheres e dos homens anos 60, época em que as mulheres ainda não haviam conquistado um lugar no mercado de trabalho e os homens eram considerados superiores e os únicos chefes da família. Até mesmo as mulheres desse tempo pensavam que o lar era seu local de trabalho. Não foi fácil, mas elas conseguiram o seu espaço no mercado e hoje lutam por salários iguais ou superiores ao dos homens. Segundo o Ipea (Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de famílias brasileiras chefiadas por mulheres é de 35%, ou seja, são quase 22 milhões de famílias que identificam como principal responsável alguém do sexo feminino.

Existem três hipóteses para a escolha de uma mulher como referência no domicílio: a mulher ganha mais que o homem, possui mais escolaridade ou tem uma situação de trabalho mais estável. De acordo com a coordenadora de igualdade de gênero do Ipea, Natália Fontoura, nenhum dos três fatores pode ser apontado como determinante para a chefia feminina. “A renda não é determinante porque as mulheres chefes de família, em geral, não ganham mais que seus maridos. A escolaridade também não é determinante, segundo a autora, porque tanto as mulheres chefes quanto as cônjuges são mais escolarizadas que os homens.

Quanto à qualidade do emprego, os números refletem as desigualdades existentes no mercado e o fato de ter melhor ocupação não determina a chefia da família. “O sexo ainda parece ser mais determinante que qualquer outra situação para que uma mulher seja considerada responsável pela família”, afirma Natalia.

O aumento do número de chefes de família mulheres, no entanto, não implica em uma mudança nos valores familiares tradicionais. O trabalho doméstico não foi transferido para os homens, e elas têm de se dividir entre a jornada de trabalho e a doméstica. O resultado é a sobrecarga da mulher que tem uma maior jornada de trabalho.

O que você acha das mulheres comandarem as famílias?

20 de abril de 2011

A falta de espaço da modalidade feminina no futebol

Atualmente, o Brasil é conhecido como o "país do futebol". Jogadores brasileiros são conhecidos e admirados mundialmente, além de serem contratados pelos mais renomados clubes do mundo inteiro; é o único país que participou de todas as Copas do Mundo e ainda foi recordista no número de vitórias (cinco); e as torcidas, enchem os estádios todas as semanas com muita festa e música. Sem dúvida alguma, o futebol faz parte da identidade do país e é um ponto de encontro de individuos que compreendem todas as culturas e camadas sociais presentes na sociedade.

Embora o futebol seja considerado uma paixão nacional, apontado como uma possibilidade de transformação social (no caso de garotos de periferia que passam a serem portadores de salários altíssimos), de inclusão, de encontro das mais diversas classes sociais e ferramenta de muitos projetos sociais, o esporte das multidões parece não assumir esta dimensão quando a questão é o futebol feminino. Apesar de as mulheres terem começado a jogar futebol desde os primórdios do século XX, os decretos oficiais da interdição a determinadas modalidades impossibilitaram uma inclusão imediata das mulheres no esporte. Já nos anos 70, surgiram novas bases para a organização do esporte no país e, logo na década seguinte, foram formados times femininos e os campeonatos passaram a adquirir visibilidade no calendário esportivo. Há quem acredite, portanto, que a discrepância entre a valorização da prática masculina e feminina é fruto histórico da sociedade, exatamente porque as mulheres demoraram a serem inseridas no futebol (assim como demoraram a conquistar um espaço político e social) e que por ser uma modalidade nova, é uma questão de tempo a conquista da igualdade no ramo esportivo.

O futebol feminino pode ser considerado uma atividade transgressora na medida em que as mulheres foram aos campos fazer valer suas aspirações, desejos e necessidades, enfrentando um universo caracterizado como próprio do homem e criando uma ramificação da cultura inicial do futebol. Desde o início, o medo dos homens da ameaça à supremacia masculina no esporte se manifestou de maneira bastante preconceituosa: a partir da ideia de que a mulher, ao jogar futebol, passa por um processo de masculinização. Além de considerarem as mulheres seres f'rágeis e delicados, incompatíveis com o espírito do combate físico presente no futebol, alega-se que, ao praticar o esporte, a tendência é a mulher imitar o homem, anulando sua feminilidade. Isabela Fernandes Pimentel da Silva, 15, que treina na escola de futebol oficial Fluminense, em Barão geraldo e é goleira do Guarani Futebol Clube, confessa que o preconceito não se manifesta somente fora do campo; aquelas jogadoras que são mais despojadas têm um olhar diferenciado para aquelas que são mais vaidosas e preocupadas com a aparência, como se a vaidade atrapalhasse a qualidade do jogo. Portanto, é possível afirmar que a ideia da necessidade da representação da figura masculina em campo não vem só dos jogadores; a cultura do preconceito se tornou tão comum que existe até mesmo entre as mulheres. Partindo desses princípios, é desconsiderada qualquer diversidade cultural que possa intervir nas características do indivíduo, independentemente do seu sexo. Pressupõe-se a existência de uma certa essência masculina e feminina considerada natural e imutável e que não depende de uma construção social. Não existe o entendimento de que a subjetividade do indivíduo não está relacionada ao gênero ao qual pertence, mas sim à cultura na qual é inserido e às aspirações pessoais, que dizem respeito a uma bagagem de ideias e pretenções construída ao longo da vida, a partir de experiências pessoais.

Apesar da crescente presença das mulheres na vida esportiva do Brasil, ainda é precária a estrutura do futebol feminino no país. São poucos os campeonatos, as contratações são efêmeras, não existem políticas privadas ou públicas direcionadas ao incentivo das mulheres que desejam praticar o esporte e a mídia reserva um espaço mínimo à modalidade. A falta de espaço do futebol feminino é um ciclo vicioso na medida em que as mulheres são desvalorizadas no meio esportivo, o que repercute num menor apreço da massa pela modalidade e, sendo assim, a mídia que precisa de audiência e lucro, reserva espaço para a modalidade que chama mais a atenção dos ouvintes, leitores e telespectadores. Entretanto, estes só vão começar a reconhecer o valor do futebol feminino quando a mídia, responsável pela difusão de informações e consequente formação de opiniões, reservar um espaço maior para as jogadoras. A falta de políticas de incentivo dentro do país também é um empecilho, já que nossas mais talentosas jogadoras sentem a necessidade de seguir carreira no exterior, para conseguir ir além do hobbie e chegar ao profissionalismo. Sendo assim, ficamos mais desprovidos ainda de uma estrutura para fazer crescer a modalidade feminina. Segundo o professor da escola Fluminense, em Barão Geraldo, essa desvalorização é um desperdício, pois considera muito mais fácil trabalhar com o futebol feminino: segundo ele, os homens acham que já nasceram com o dom do futebol e, portanto, apresentam menor disposição para aprender e aperfeiçoar as técnicas, enquanto as mulheres estão sempre querendo melhorar.