29 de abril de 2011

Matriarcalismo ou Patriarcalismo? Prefira o equilíbrio

Se você é da geração dos anos 60 e até mesmo 70, você muito provavelmente cresceu sob o patriarcalismo.

Mesmo com as mulheres já tendo algum destaque profissional nesse período, a grande maioria delas ainda trabalhava só em casa, cuidando do lar, ou tinha alguma atividade que permitia a divisão do seu tempo, ou seja, era exercida à medida que sobrava tempo após cumprir as “obrigações” do lar.

A mulher tinha que estar em casa quando o homem chegasse. O jantar deveria estar preparado, as crianças arrumadas, com os deveres da escola prontos. Isso sim era a obrigação da mulher.

Mas, a sociedade evolui e evoluiu muito mais rapidamente a partir dos anos 80. Lares sem marido passaram a ser mais comuns. Mulheres formadas em universidades, prontas para disputar o espaço profissional que lhes cabia, saíram a campo. Casar e cuidar do lar saiu do sonho de futuro das solteiras. As casadas também saíram a procura de uma profissão fora do lar, ou porque já não tinham mais o marido, ou porque queriam seu espaço, ou porque o marido já não ganhava o suficiente para as novas despesas, como escolas particulares, de inglês, natação, etc, para os filhos, e as solteiras foram disputar as vagas e, em grande parte, ganharam.

No início, as vagas ainda era poucas e “cobertas”. Mas, depois, vagas em todos os escalões e tipos de atividades foram abertas para as mulheres.

E com elas, o patriarcalismo foi saindo pela porta. Nada tão fácil assim, mas acabou acontecendo. As mudanças sociais não ocorrem assim: sai o patriarcalismo, entra o matriarcalismo. Não é assim que funciona. Ambos vão se alternando, dependendo das situações de poder econômico, social, cultural, de um ou outro lado.

Acredito que chegaremos em um consenso nessa questão: nem um, nem outro, mas uma convivência harmoniosa entre pai e mãe, mãe e pai. Chegaremos ao terreno das composições de ideias, somando-se as divergências, valorizando as diferença e tirando delas o equilíbrio tão faltante no matriarcalismo ou no patriarcalismo. Esses dois pressupõem domínio e onde há domínio não há razão.

Num terreno de equilíbrio voltaremos a ter famílias saudáveis com filhos saudáveis, compreendendo como eles se completam e não tendo que ora torcer pelo pai, ora optar pela mãe.

26 de abril de 2011

Chefes de família mulheres correspondem a 35% da população


Vídeo extraído do documentário "Eu Tarzan, Você Jane", de 2006, exibido pelo GNT em 04/2008.

O vídeo acima demonstra o pensamento das mulheres e dos homens anos 60, época em que as mulheres ainda não haviam conquistado um lugar no mercado de trabalho e os homens eram considerados superiores e os únicos chefes da família. Até mesmo as mulheres desse tempo pensavam que o lar era seu local de trabalho. Não foi fácil, mas elas conseguiram o seu espaço no mercado e hoje lutam por salários iguais ou superiores ao dos homens. Segundo o Ipea (Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de famílias brasileiras chefiadas por mulheres é de 35%, ou seja, são quase 22 milhões de famílias que identificam como principal responsável alguém do sexo feminino.

Existem três hipóteses para a escolha de uma mulher como referência no domicílio: a mulher ganha mais que o homem, possui mais escolaridade ou tem uma situação de trabalho mais estável. De acordo com a coordenadora de igualdade de gênero do Ipea, Natália Fontoura, nenhum dos três fatores pode ser apontado como determinante para a chefia feminina. “A renda não é determinante porque as mulheres chefes de família, em geral, não ganham mais que seus maridos. A escolaridade também não é determinante, segundo a autora, porque tanto as mulheres chefes quanto as cônjuges são mais escolarizadas que os homens.

Quanto à qualidade do emprego, os números refletem as desigualdades existentes no mercado e o fato de ter melhor ocupação não determina a chefia da família. “O sexo ainda parece ser mais determinante que qualquer outra situação para que uma mulher seja considerada responsável pela família”, afirma Natalia.

O aumento do número de chefes de família mulheres, no entanto, não implica em uma mudança nos valores familiares tradicionais. O trabalho doméstico não foi transferido para os homens, e elas têm de se dividir entre a jornada de trabalho e a doméstica. O resultado é a sobrecarga da mulher que tem uma maior jornada de trabalho.

O que você acha das mulheres comandarem as famílias?

20 de abril de 2011

A falta de espaço da modalidade feminina no futebol

Atualmente, o Brasil é conhecido como o "país do futebol". Jogadores brasileiros são conhecidos e admirados mundialmente, além de serem contratados pelos mais renomados clubes do mundo inteiro; é o único país que participou de todas as Copas do Mundo e ainda foi recordista no número de vitórias (cinco); e as torcidas, enchem os estádios todas as semanas com muita festa e música. Sem dúvida alguma, o futebol faz parte da identidade do país e é um ponto de encontro de individuos que compreendem todas as culturas e camadas sociais presentes na sociedade.

Embora o futebol seja considerado uma paixão nacional, apontado como uma possibilidade de transformação social (no caso de garotos de periferia que passam a serem portadores de salários altíssimos), de inclusão, de encontro das mais diversas classes sociais e ferramenta de muitos projetos sociais, o esporte das multidões parece não assumir esta dimensão quando a questão é o futebol feminino. Apesar de as mulheres terem começado a jogar futebol desde os primórdios do século XX, os decretos oficiais da interdição a determinadas modalidades impossibilitaram uma inclusão imediata das mulheres no esporte. Já nos anos 70, surgiram novas bases para a organização do esporte no país e, logo na década seguinte, foram formados times femininos e os campeonatos passaram a adquirir visibilidade no calendário esportivo. Há quem acredite, portanto, que a discrepância entre a valorização da prática masculina e feminina é fruto histórico da sociedade, exatamente porque as mulheres demoraram a serem inseridas no futebol (assim como demoraram a conquistar um espaço político e social) e que por ser uma modalidade nova, é uma questão de tempo a conquista da igualdade no ramo esportivo.

O futebol feminino pode ser considerado uma atividade transgressora na medida em que as mulheres foram aos campos fazer valer suas aspirações, desejos e necessidades, enfrentando um universo caracterizado como próprio do homem e criando uma ramificação da cultura inicial do futebol. Desde o início, o medo dos homens da ameaça à supremacia masculina no esporte se manifestou de maneira bastante preconceituosa: a partir da ideia de que a mulher, ao jogar futebol, passa por um processo de masculinização. Além de considerarem as mulheres seres f'rágeis e delicados, incompatíveis com o espírito do combate físico presente no futebol, alega-se que, ao praticar o esporte, a tendência é a mulher imitar o homem, anulando sua feminilidade. Isabela Fernandes Pimentel da Silva, 15, que treina na escola de futebol oficial Fluminense, em Barão geraldo e é goleira do Guarani Futebol Clube, confessa que o preconceito não se manifesta somente fora do campo; aquelas jogadoras que são mais despojadas têm um olhar diferenciado para aquelas que são mais vaidosas e preocupadas com a aparência, como se a vaidade atrapalhasse a qualidade do jogo. Portanto, é possível afirmar que a ideia da necessidade da representação da figura masculina em campo não vem só dos jogadores; a cultura do preconceito se tornou tão comum que existe até mesmo entre as mulheres. Partindo desses princípios, é desconsiderada qualquer diversidade cultural que possa intervir nas características do indivíduo, independentemente do seu sexo. Pressupõe-se a existência de uma certa essência masculina e feminina considerada natural e imutável e que não depende de uma construção social. Não existe o entendimento de que a subjetividade do indivíduo não está relacionada ao gênero ao qual pertence, mas sim à cultura na qual é inserido e às aspirações pessoais, que dizem respeito a uma bagagem de ideias e pretenções construída ao longo da vida, a partir de experiências pessoais.

Apesar da crescente presença das mulheres na vida esportiva do Brasil, ainda é precária a estrutura do futebol feminino no país. São poucos os campeonatos, as contratações são efêmeras, não existem políticas privadas ou públicas direcionadas ao incentivo das mulheres que desejam praticar o esporte e a mídia reserva um espaço mínimo à modalidade. A falta de espaço do futebol feminino é um ciclo vicioso na medida em que as mulheres são desvalorizadas no meio esportivo, o que repercute num menor apreço da massa pela modalidade e, sendo assim, a mídia que precisa de audiência e lucro, reserva espaço para a modalidade que chama mais a atenção dos ouvintes, leitores e telespectadores. Entretanto, estes só vão começar a reconhecer o valor do futebol feminino quando a mídia, responsável pela difusão de informações e consequente formação de opiniões, reservar um espaço maior para as jogadoras. A falta de políticas de incentivo dentro do país também é um empecilho, já que nossas mais talentosas jogadoras sentem a necessidade de seguir carreira no exterior, para conseguir ir além do hobbie e chegar ao profissionalismo. Sendo assim, ficamos mais desprovidos ainda de uma estrutura para fazer crescer a modalidade feminina. Segundo o professor da escola Fluminense, em Barão Geraldo, essa desvalorização é um desperdício, pois considera muito mais fácil trabalhar com o futebol feminino: segundo ele, os homens acham que já nasceram com o dom do futebol e, portanto, apresentam menor disposição para aprender e aperfeiçoar as técnicas, enquanto as mulheres estão sempre querendo melhorar.

17 de abril de 2011

A voz da mulher


O patriarcalismo e a Lei Maria da Penha



Desde o século VI antes de Cristo. a mulher percorre um caminho de discriminações na vida social quando era proibida de emitir opiniões na presença de algum homem ou mostrar-se descoberta fora de casa. Tais atitudes derivadas de uma sociedade patriarcalista, tornaram a mulher um ser excluído da evolução cultural.


Os primeiros vestígios da participação feminina na sociedade brasileira foi em 1928, quando Alzira Soriano foi eleita prefeita em uma pequena cidade do Rio Grande do Norte, mas não completou mandato. A mulher foi conquistando espaço a partir de atitudes que conseguiram intervir no patriarcalismo imposto e trazê-la à maior participação em processos eleitorais, educacionais, econômicos e sociais. Porém, até os dias de hoje sofrem conseqüências do prevalecimento da mentalidade machista.



Ideologias que pregam que 'o homem dá a palavra final' e que 'o papel da mulher é cuidar dos filhos' não se aplicam mais. Entretanto, a partir do momento em que a mulher passou a ser um ponto essencial na formação familiar, muitos homens movidos por um sentimento de rebaixamento, passaram a achar que têm o direito de se impor e reverter a situação, resultando na mulher menosprezada, ignorada e muitas vezes agredida no âmbito familiar.



Em 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha que pune todo e qualquer tipo de agressão contra a mulher no setor familiar ou doméstico. Criada com o objetivo de proteger os direitos da mulher, possibilitando a prisão dos agressores, Maria da Penha Maia Fernandes só tomou coragem de denunciar o marido após duas tentativas de homicídio.



Resultante do modo de criação que os pais impuseram sobre a criança, muitos homens amadurecem com pensamento de que a força física sobressai qualquer tipo de desavença. Ao contrário do que algumas pesquisas indicam, nem todo agressor é nascido em família simples e não possuiu algum tipo de instrução durante a adolescência. Exemplos famosos como dos atores Kadu Moliterno, Dado Dolabella, Thiago Rodrigues ou Mel Gibson, provam que a vontade de agressão não vem da classe social e sim da mentalidade patriarcal predominante na sociedade.


Não são viáveis tais comportamentos vindos de indivíduos de uma sociedade que, pela primeira vez na história do nosso país, escolheram uma mulher como presidente!


A Lei Maria da Penha é a voz de muitas mulheres que exigem um basta neste machismo exacerbado, e procuram de uma nova maneira mostrar que as mulheres também fazem a diferença.



5 de abril de 2011

O início da discussão

Blog, auto-representação e opinião pública

A criação deste blog foi sugerida pelo professor da disciplina Teoria da Opinião Pública, Wagner Geribello, para que, através de um debate virtual, analisemos as reações e modificações da opinião pública, sendo este público restrito aos freqüentadores do site.

Porém, antes mesmo de iniciarmos o tema do debate, cabe nos questionarmos sobre a opinião pública e a auto-representação. O desenvolvimento de um debate polêmico em um blog favorece a não dependência e a não representação de voz pelos veículos de massa, ou seja, cada um garante a chance de se auto-representar. Entretanto, como e com qual independência?

O que estou tentando trazer aqui é o questionamento de quanto nossa opinião está livre daquilo já pautado pela mídia massiva, ou seja, ao discutirmos, no caso o patriarcalismo, até que ponto nossa discussão e opinião poderão ir além e independentes daquilo que está traduzido simbolicamente pela palavra midiática, pelo raciocínio conduzido por ela.

O conteúdo a ser debatido pela auto-representação é proveniente de informações já atribuídas valoração. Ou seja, o debate polêmico faz uso principalmente, para usar termo do Pierre Bourdieu, do fast think, as argumentações embasadas pelo principal meio de informação da sociedade, a grande imprensa, não favorecem ao recebimento ativo da informação, não provocam a racionalização da informação, pelo contrário, provocam a passividade e internalização daquilo que está sendo recebido. Continuando com Bourdieu, há maior violência simbólica? Não se percebe sendo violentado, apenas se internaliza e age passivamente a respeito daquilo que já está valorado, simbolicamente pela palavra e moldagem da comunicação de massa. Portanto, mesmo que haja o debate para a formação da opinião pública, a que ponto esta não está sendo guiada por aquilo que já foi valorado e comunicado massificamente? Em outras palavras, não nas minhas, mas nas do ainda sociólogo francês, há conservação, manutenção da ordem simbólica!

A vantagem da existência da auto-representação virtual é que criamos uma independência de voz, não precisamos da intervenção de veículos de massa para nos expormos, expressarmos, mas para que nossa opinião seja realmente nossa e a opinião pública realmente pública seria necessário o desprendimento das intervenções econômicas e políticas na comunicação de massa, o que, muito dificilmente ocorra, porém possivelmente melhorada com a alta regulamentação. Não entrarei nesse debate, mas deixo aqui a forma de pluralizar a informação, para que, como fonte de esclarecimento individual, a opinião seja desenvolvida ativamente, por debates de troca de argumentação, assim, quando nos auto-representarmos, saberemos que aquilo que está sendo formado, a partir de nossos argumentos, e de nossas discussões, é uma movimentação social, uma racionalização e uma real formação de opinião constituída pelo coletivo.

O Patriarcalismo

O tema que permeará todas as postagens a serem realizadas nesse blog é o patriarcalismo. Este definido por “uma das estruturas sobre as quais se assentam todas as sociedades contemporâneas. Caracteriza-se pela autoridade, imposta institucionalmente, do homem sobre mulher e filhos no âmbito familiar. Para que essa autoridade possa ser exercida, é necessário que o patriarcalismo permeie toda a organização da sociedade, da produção e do consumo à política, à legislação e à cultura. Os relacionamentos interpessoais e, consequentemente, a personalidade, também são marcados pela dominação e violência que tem sua origem na cultura e instituições do patriarcalismo. É essencial, porém, não esquecer o enraizamento do patriarcalismo na estrutura familiar e na reprodução sociobiológica da espécie, contextualizados histórica e culturalmente. Não fosse a família patriarcal, o patriarcalismo ficaria exposto como dominação pura e acabaria esmagado pela revolta da `outra metade do paraíso’, historicamente mantida em submissão”. (Castells, 2008, p. 169)

Assim como Castells define o sistema patriarcal, também afirma sua crise devido à transformação do trabalho feminino e à conscientização da mulher. Aqui, reconheceremos as conquistas pela luta das mulheres ao longo do tempo, pela igualdade não exclusivamente de direito, mas também de comportamento, de tratamento e de posicionamento social.

Nós, como mulheres, nos tornamos capazes de nos auto-reconhecer como um indivíduo, pertencente a uma esfera pública, e assim nos valorizarmos por capacidades mentais e de exercimento de razão tanto quanto os homens. Dessa forma, invadimos a formação social, saímos da reclusa da propriedade privada, e com isso, deixamos de sê-la também. Porém, apesar do reconhecimento dessa igualdade, ela não é aplicada nas estruturas sociais. Ainda é possível ver e questionar o tratamento das mulheres como inferiores no trabalho, na linguagem, na lei, no modelo familiar, no comportamento – e em tantos outros campos- conforme serão futuramente tratados.

Em outras palavras, concordamos com Castells, o modelo patriarcal está em crise, diminuiu, mas isso não significa que ele acabou, que a opressão acabou. Apesar de todas as conquistas femininas, o patriarcalismo está presente, refletindo-se, mantendo-se e reproduzindo-se socialmente, nas raízes do Brasil colonial, no sistema capitalista, em que a mulher não passa de um instrumento de produção ainda mais desvalorizado na garantia da mais-valia, e na necessidade do gênero homem inferiorizar a mulher para o exercício do domínio do corpo feminino, já que a mulher é única capaz de garantir a reprodução, de gerar.